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Foto do escritorSamara Carvalho

O Luto como um Processo de Ressignificação


A morte e o luto são vivências que não podemos evitar experienciar, pois são acontecimentos inerentes ao viver e ao fato de sermos seres finitos.  Em “Luto e Melancolia”, Freud (1914-1916/2010) conceitua o luto como uma reação à perda, a qual não necessariamente estará relacionada à morte de um ente querido, mas também a algo que assuma as mesmas proporções, sendo um fenômeno mental natural, contínuo e constante durante o desenvolvimento. Se pararmos para refletir, o sentimento de perda começa sendo vivenciado desde o nascimento, a partir da saída do conforto proporcionado pelo ventre materno.


Apesar disso, não é fácil lidar com os sentimentos de perda e vazio que costumam nos atravessar a partir dessas experiências, sendo importante ressaltar que não há tempo exato e delimitado para o início e fim da vivência do luto, se trata de um processo extremamente subjetivo de contato com a finitude da vida e requer tempo para elaboração. Além disso, não se caracteriza como um processo estático, é um processo dinâmico, no qual ocorrem oscilações entre o sentimento de perda e o de restauração, nesse processo, a psique segue em busca da reorganização.


No livro "O Homem e Seus Símbolos", Jung fala sobre nossa vida consistir em um complexo de fatores antagônicos constantes e permanentes, como o dia e a noite, o nascimento e a morte, a felicidade e o sofrimento, o bem e o mal. Esses elementos não só se opõem, como se atraem e se complementam.


Portanto, viver também implica morrer e refletir sobre isso nem sempre é fácil, tende a ser um processo doloroso, mas que ao final pode trazer transformação e ressignificação de sentimentos, não só em relação à nossa própria existência e em como temos vivido nossa vida, mas também em relação a pessoa falecida que perdemos, pois apesar de fisicamente não estar mais presente, ela continua possuindo um papel e representação simbólica em nosso funcionamento psíquico. O luto decorrente da perda não significa o fim absoluto, mas o fim de uma forma de ser e existir, algo que apesar de doloroso, também abre possibilidade para transformação, ressignificação e a descoberta de uma nova forma de viver.


Por meio da psicoterapia, é oferecido acolhimento e apoio para que a pessoa enlutada possa lidar com esse momento de perda e com todos os pensamentos e sentimentos advindos desse processo, a ideia é que o sujeito possa, no seu tempo, ir redefinindo sua forma de viver e seu mundo interno, percebendo a morte como parte da vida e ressignificando essa experiência.



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